Em tempos de inteligência artificial generativa, deepfakes e robôs redatores, uma pergunta paira no ar: qual é o papel do jornalista no mundo digital? Para entender o presente — e o futuro — é preciso voltar às origens e observar a trajetória da profissão até o surgimento do primeiro jornal criado totalmente por IA.
🏛️ Das Tablaturas Romanas aos Jornais Modernos
Muito antes da invenção da imprensa, os impérios antigos já compreendiam o poder da informação. Na Roma Antiga, os Acta Diurna eram boletins afixados em locais públicos com decisões do Senado e acontecimentos diários — um protótipo de jornal público.
O grande salto veio com Johannes Gutenberg e sua prensa de tipos móveis, em 1440. A imprensa abriu espaço para panfletos, boletins e os primeiros jornais periódicos da Europa. Entre os pioneiros estão:
- Relation (1605, Alemanha)
- La Gazette (1631, França)
- London Gazette (1665, Inglaterra)
Ainda não existia o "jornalista" como profissão, mas o ato de produzir informação impressa já se tornava essencial para a sociedade.
📚 Do Iluminismo à Profissão com Diploma
Nos séculos XVIII e XIX, com o avanço da alfabetização e a força da imprensa como instrumento político, o jornalismo se consolidou como atividade crítica e influente. O surgimento de veículos como The Times e The New York Times marcou o nascimento do jornalista moderno: alguém que apura, redige, investiga e interpreta os fatos.
No século XX, com o surgimento do rádio, da televisão e depois da internet, os jornalistas passaram a ser formados em universidades, seguindo códigos de ética e organizados em sindicatos e associações. A profissão se tornava, oficialmente, um pilar da democracia.
⚖️ Diploma Não É Mais Obrigatório no Brasil — Mas e a Qualidade?
Em 2009, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que o diploma de jornalismo não é obrigatório para exercer a profissão no Brasil. A decisão causou forte repercussão e ainda gera debate.
Os argumentos do STF:
- Obrigar o diploma viola a liberdade de expressão garantida pela Constituição.
- O jornalismo não é uma atividade que representa risco à vida, como medicina ou engenharia.
A reação do mercado:
- Empresários de mídia apoiaram a decisão, com mais flexibilidade para contratar.
- Sindicatos e faculdades protestaram, alegando que a decisão desvaloriza a formação técnica e ética da profissão.
Hoje, embora o diploma não seja exigido por lei, muitos veículos ainda o usam como critério de seleção. Afinal, o compromisso ético e a responsabilidade social do jornalismo não nascem espontaneamente — são formados.
🤖 Quando a Redação É Robótica: O Caso do Il Foglio AI
Em março de 2025, o jornal italiano Il Foglio lançou o primeiro jornal do mundo inteiramente gerado por IA. Batizado de Il Foglio AI, o suplemento diário incluía 22 artigos, três editoriais e até imagens criadas por inteligência artificial, com suporte do ChatGPT.
O experimento chamou a atenção do mundo. Segundo o diretor Claudio Cerasa:
"Queremos testar e compreender os limites da IA, mas também explorar suas oportunidades."
Como funciona?
- Os editores fornecem à IA o tema, o tom e o estilo desejado.
- A IA gera os textos com base em dados disponíveis na internet.
- Pequenos erros são mantidos de propósito, para evidenciar os limites da tecnologia.
📣 Repercussão: Inovação ou Ameaça?
A reação no Brasil e no mundo foi intensa. Veja o que disseram os veículos nacionais:
- Poder360: classificou o projeto como uma experiência inédita que testa a presença da tecnologia no jornalismo diário.
- Jornal de Brasília: destacou o aumento de 60% nas vendas na primeira edição, mas também a divisão do público nas redes sociais.
- Notícias ao Minuto: ressaltou que a proposta não é substituir jornalistas, mas provocar reflexões.
- Marketeer: fez críticas à confiabilidade da IA alertando para erros, plágios e padronização excessiva.
⚠️ IA é jornalista? Veja os riscos que preocupam a imprensa
Apesar do entusiasmo, especialistas apontam riscos relevantes:
- Falta de apuração: IA não investiga, não entrevista, não questiona.
- Riscos éticos: algoritmos podem perpetuar preconceitos ou gerar desinformação.
- Perda da voz autoral: os textos podem parecer genéricos e impessoais.
A IA pode ser uma ferramenta útil, mas jamais deve ser confundida com o exercício pleno do jornalismo profissional.
💡 O Futuro é Híbrido: Por Que o Humano Ainda Importa
Seja escrevendo em tábuas de argila ou digitando com IA, o jornalista sempre ocupou um papel crucial: o de intérprete da realidade. Em um mundo de sobrecarga de informação, esse papel se torna ainda mais vital.
As máquinas são rápidas. Mas apenas o jornalista humano é capaz de fazer as perguntas certas, conectar os pontos e defender a verdade quando ela incomoda.
E você? Confiaria em um jornal escrito por máquinas? Ou ainda busca o olhar humano por trás das notícias?